quinta-feira, 2 de outubro de 2008

*Contos* (e só contos)

Ele era uma criança... eu sabia.

Uma criança da noite, mas já um homem do dia.
Veio em minha direção, 'identificável', e como se fosse ilusão, acabou por se aconchegando nas palavras de meus dias.
No início achei estranho: 'porque tanta amizade?' Dada de bandeja, assim, não se vê tão fácil não.
Por hora pensei ser passageiro. Por hora pensei que logo logo enjoaria.
Mas nada disso aconteceu, e dia após dia lá estava ele, bela criança minha.
E não apenas próximo fisicamente, abriu uma brecha em meus sentidos e se jogou, calmamente, nas entranhas remoídas e doloridas há tempos. Parecia nem perceber. Parecia fazer sem querer.
E isso me encantava, cada dia mais.
Como pode? Não vês que sou monstruosa criatura, sedenta por mutilar-lhe os sonhos e crenças; por arrancar de ti toda a fé no conhecido e morno?
Eis que me surpreendo, e a criança sabe demais.
Pronto. Já não posso mais me culpar por todos os passos dados.
E a criança quis se alimentar. Mas nisso ainda não é prática. Mas isso ainda não sabe escolher. Acaba por trazer para si preza filhote. E filhote não deve ser alimento para essa fome.
Não a fome que sente quem 'sabe demais'.
Existem pessoas que simplesmente não estão aqui, embora pareçam estar. Existem pessoas que vão lá dentro... longe. E a cada passo, essa criança se afundava mais e mais, nas minhas vísceras. Entrelaçando seus cabelos, entrelaçando seus dedos.
É responsabilidade demais? Olhar por uma criança desperta, consciente de seu despertar, conhecendo o mundo de possibilidades e procurando aquilo que sua alma mais almeja?
Pode-se brincar de Deus quando há mais que magnetismo? Quando um vórtex se cria?
Não sei.
Mas aquela criança noturna me olha a alma. E isso me aterroriza.

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